Mercado financeiro passa por transformação, com redução da taxa de juros

Investidores precisam arriscar mais para garantir melhor retorno nas suas aplicações

O mercado financeiro passa por um processo de transformação. A Selic, taxa básica de juros da economia, atingiu o menor patamar histórico. Na última reunião deste ano do Copom (Comitê de Política Econômica) do Banco Central, uma nova redução foi anunciada, chegando à marca de 4,5% ao ano.  

Para se ter uma ideia, há cerca de três anos, a Selic estava em 14,25% ao ano, mas de lá para cá, passou por sucessivos cortes até chegar no nível que atingimos atualmente. Para especialistas, a nova taxa veio para ficar e, para ter melhor retorno nos investimentos financeiros, os brasileiros precisam arriscar mais.

Para o ano que vem, os economistas do Grupo Consultivo Macroeconômico da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) acreditam em outra queda na Selic, chegando a 4,25% ao final de 2020.

O fato é que a economia brasileira está entrando em um novo patamar, muito parecido com as grandes economias mundiais, que têm taxa de juros mais baixas. No entanto, o mercado financeiro terá que se preparar para retornos menores nos seus investimentos.

O professor de cenários econômicos e macroeconomia dos cursos de MBA da Faculdade Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), Silvio Paixão, elenca as três principais mudanças que ele considera as mais significativas para o mercado financeiro neste período.

 

 

“A primeira é decorrente da crise financeira mundial, que levou as pessoas a terem mais consciência em relação ao risco e passaram a ser mais criteriosas, especialmente depois da crise financeira de 2008, que afetou a economia mundial”, diz o professor.

 

 

Vale destacar que, entre os anos de 2007 e 2008, a economia global passou por uma grave crise financeira internacional precipitada pela falência do tradicional banco de investimento estadunidense Lehman Brothers, fundado em 1850. Diante deste cenário, veio um efeito dominó que levou outras grandes instituições financeiras também quebraram, no processo que ficou conhecido como a crise dos subprimes. 

QUEDA DA SELIC

O segundo item destacado pelo professor está relacionado à economia nacional. O setor empresarial comemora a redução da taxa. Robson Braga de Andrade, presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), avaliou que a decisão do Banco Central de dar continuidade à política monetária expansionista é acertada. Essa medida reduz o custo da dívida pública, mantém o Brasil no caminho de uma taxa compatível com as práticas internacionais e tem potencial para afetar toda a estrutura de juros no sistema financeiro nacional. Para o presidente da CNI, a política econômica deve se voltar para ações que transfiram essa queda para os juros pagos pelas empresas e pelas famílias no sistema financeiro.

No entanto, a redução da taxa básica de juros, a Selic, teve impacto direto nos investimentos. “Antes, o investidor ficava tranquilo em aplicar em renda fixa porque tinha um retorno alto. Agora, tem que buscar novas oportunidades de aplicação dos recursos para ter um retorno melhor”, diz o professor. Ele comenta que, com a nova taxa de juros, aplicar em renda variável começa a ganhar destaque entre os investidores. Isso porque alguns modelos de renda fixa podem perder para a inflação.

O mestre em administração financeira e professor da Faculdade Anhanguera de Jundiaí, Nelson Bueno de Oliveira, considera que as recentes quedas da taxa Selic, o novo patamar de 5% por ano deve ser considerado no momento da aplicação financeira. 

“Para quem possui um perfil conservador, ou seja, baixa tolerância a riscos de mercado e de crédito, os produtos CDB (certificado de depósito bancário) e Fundos DI são indicados. No Tesouro Direto (aplicação em títulos públicos federais), os títulos Tesouro Selic ou Tesouro Prefixado ou Tesouro IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, a inflação oficial do País) são interessantes. Se o seu perfil é mais voltado a riscos, você pode avaliar a aplicação em CDB de bancos de menor porte, debêntures, fundos multimercado e fundos de ações”, orienta o professor da Anhanguera.

Os brasileiros estão percebendo que, para ter mais retorno, é necessário arriscar mais e o resultado é o aumento no número de pessoas que decidiram aplicar seus recursos em Bolsa de Valores. Levantamento realizado pela B3 (Brasil Bolsa Balcão), em agosto, a Bolsa nacional fechou com mais de 1,3 milhão de investidores pessoas físicas, mostrando um crescimento contínuo mesmo nesse cenário de alta volatilidade.

De acordo com especialistas, isso indica que as pessoas, inclusive os mais jovens, já conseguem lidar com os momentos de euforia ou de baixa. As próprias empresas também estão cada vez mais percebendo a importância de lidar com esses novos acionistas e como melhor interagir com essa nova base de investidores. A tendência é que este novo perfil de investidores, que arrisca mais, siga em alta nos próximos anos.

MAIS TECNOLOGIA

Por fim, o professor Silvio Paixão cita a chegada da tecnologia das fintechs (startups que trabalham para inovar e otimizar os serviços do sistema financeiro), que trouxeram mais inovação ao crédito e investimento e que contribuem para as mudanças no mercado financeiro.

Fintech é um termo que surgiu da união das palavras financial (financeiro) e technology (tecnologia). Fintech são majoritariamente startups que trabalham para inovar e otimizar serviços do sistema financeiro.

Essas empresas possuem custos operacionais muito menores comparadas às instituições tradicionais do setor. Isso é possível porque conseguem utilizar tecnologias que elevam a eficiência dos processos e barateiam os serviços ofertados, exemplo disso é o uso de smartphones para o uso de bancos móveis e a possibilidade de realizar investimentos da aplicação da tecnologia que tornam o acesso a serviços financeiros e bancários mais acessíveis à população.

“Essa novidade está revolucionando o mercado financeiro mundial”, diz o professor ao lembrar que há muita informação disponível no mercado, mas ainda falta educação financeira para que as pessoas saibam dar mais valor aos seus recursos e os usem com mais consciência.

Para o professor da Fipecafi, a tendência é que, nos próximos anos, os investidores devem se voltar para aplicações com mais volatilidade para atingirem um retorno melhor. “A taxa Selic deve seguir em patamares baixos e, diante disso, o mercado caminha para um aumento do risco nos investimentos e com prazos mais largos”, finaliza o professor.

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